terça-feira, 20 de agosto de 2013

NELINHO MAIS UM MÁRTIR DE CORUMBIARA

Manoel Ribeiro, o grande Nelinho, nasceu no dia 11 de fevereiro de 1965 em Ferruginha,
município de Conselheiro Pena-MG, recém nascido mudou com a família para o estado do Paraná precisamente para cidade de Assis Chateaubriand-PR. Começou a trabalhar muito cedo na roça, em seguida em uma farmácia. Em janeiro de 1981 já na adolescência mudou com a família para Colorado do Oeste em Rondônia e trabalhou por dois anos na farmácia do popular Jô Sato já começando a angariar simpatia da população pelo seu carisma e pela forma com a qual atendia a todos sempre com muita cordialidade e um sorriso no rosto. 
Ainda menor, em meados de 1982 foi convidado para trabalhar na agência do Bradesco em Colorado, atuando diretamente com os colonos principalmente na pasta da carteira agrícola onde conquistou credibilidade e muita confiança. Tinha participação ativa no meio esportivo e no Grupo de Jovens de Colorado. Sua liderança junto aos seus colegas de trabalho ganhava forças. O início da década de 80 em nosso país foi marcante e passava por uma grande transformação social, era a plena ditadura e o povo clamava por mudanças e exigia a democracia, más a repressão era vertente. Esse período ainda era crucial e negro para a luta dos trabalhadores e o setor bancário não era diferente.
A formação do Sindicato dos Bancários em Rondônia foi a chave para que Nelinho se tornasse a liderança máxima da categoria no Cone Sul. Nesse período ingressou no Partido dos Trabalhadores de Colorado do Oeste, já fazendo parte do Diretório Municipal e ampliando seu peso de liderança. Porém, como a luta de esquerda naquele período era tido como subversiva e seus líderes eram implacavelmente perseguidos, mesmo com a queda do militarismo em 1985, e pelo fato do Nelinho ter liderado as grandes greves e inquietando seus superiores pela dita subversão, em 1986 Nelinho foi sumariamente demitido da agência do Bradesco. Montou um pequeno bar em Colorado onde era muito frequentado pelos amigos, mas, esse não era seu dom, preferiu ir pra roça e trabalhar com os pais no então Distrito de Nova Esperança, hoje Corumbiara.
Recomeçava aí uma nova luta, começando pelo Grupo de Jovens da igreja católica, em 1987 aliou-se ao movimento dos professores da Escola São Roque onde o embate com o poder local era fervilhante. Em 1988 começa a sua jornada em busca de um cargo político. Concorreu a uma vaga de vereador representando o Distrito de Nova Esperança e por apenas dois votos não foi eleito, mas, marcou terreno, ficou primeiro suplente.
Liderou as eleições de 1989 onde houve a disputa entre Lula/Collor onde mesmo com a derrota nacional em Nova Esperança Lula saiu vencedor, Nelinho ganhou mais pontos. Veio a emancipação de Nova Esperança em 1992 a qual se passou a chamar-se Corumbiara em homenagem ao rio que corta o município, fundou o PT em Corumbiara e com isso a eleição para a escolha do novo prefeito do recém-criado município.
O PT, em uma aliança com o PDT, lançou o comerciante Daniel Alencar com o vice do PT João Cacau. Nelinho concorreu a vereador e desta vez foi eleito, o único do PT de Corumbiara. Na câmara era basicamente o único que contestava os desmandos e abusos cometidos pela administração municipal da época e pela subserviência dos demais vereadores.
Em 1993 fundou o Sindicato dos Trabalhadores Rurais juntamente com outros companheiros de luta composta por lideranças dos assentamentos Adriana, Vitória da União e Verde Seringal, que a partir daí esse sindicato tornou-se referência e um dos mais combativos do Estado de Rondônia, passando a somar forças e contribuir com a participação popular nas ações políticas na Câmara Municipal. O sindicato dos trabalhadores rurais, em sua base, enraizada com mais de 60 lideranças distribuídas através das comissões de linha, já em 1995 mobilizou-se para a ocupação da chamada Fazenda Santa Elina onde envolveu mais de 600 famílias, totalizando uma média de duas mil pessoas.
A partir daí entra o período de agonia. A ocupação em 15 de julho, em seguida a resistência e o massacre, ocorrido no dia 09 de agosto de 1995 pelas forças policiais do Estado e por jagunços. Pelos fatores de ter apoiado os sem-terra associado aos embates travados na Câmara Municipal, o vereador Nelinho entrou no rol dos marcados para morrer. Comentava-se que a cabeça de um líder de Santa Elina equivalia de vinte a trinta mil reais.
O assassinato de Nelinho era eminente, questão de dias. Na noite do dia 16 de dezembro de 1995 aconteceu o inevitável, uma tocaia covarde, vários tiros na noite, Nelinho de peito aberto, foi alvejado covardemente, tombou, mas não renegou seu legado de defender os mais humildes. Registrou na história de Corumbiara o exemplo de um guerreiro que não tinha medo da morte.

Fonte: Tirado do Facebook de João Ribeiro da Cidade de Corumbiara –
Autor do texto: JOÃO RIBEIRO DE AMORIM - Irmão de Nelinho
Vereador 2001/2004 – 2005/2008 – Vice-Prefeito 2009/2013

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